segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

JOÃOMENDONÇA POÉTICA 19.12.16


Nunca vou conseguir responder às perguntas se estiver no esconderijo. Lá é pra fugir das indagações do dia a dia. É local de rezar e de me encontrar. A confusão acontece porque ás vezes misturo viver com existir. Vivo no esconderijo e existo na sociedade.
Todos conhecem meu lado que existe. O lado simpático que retribui um aceno na rua, que compra um côco, que sua muito depois do trabalho duro, que paga uma conta atrasada, que autentica um documento no cartório a até mesmo quando lê um jornal na praça.
No esconderijo não. Lá eu sou eu. Fantasio que vou salvar o mundo. É no esconderijo que sou bonito, milionário e falo palavrão o tempo todo. Não falta dinheiro. Olho para os outros com desejo e também com ódio, síntese exata da incompleta exatidão humana.
No esconderijo viajo pra África e pra Alagoinhas num minuto. É lá que meu lado generoso se desenvolve tanto que amanhã jamais vai chegar. E nunca olho para o relógio porque esse hábito robótico e sintonizado com a morte desaparece para quem é imortal como eu.

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