Escrever antes de dormir é o que Deus faz todos os dias. Ele não escreve nem para orar nem para registrar o que tem feito. Nada disso. Simplesmente Deus escreve para se divertir porque as demandas são tantas que ele prefere fugir para lugar nenhum. Não há destino que o abrigue longe da sua realidade, todos os lugares são partes de sua casa e onde quer que vá ele está ao lado de si mesmo.
As palavras sim. Elas conseguem ir para onde não se conhece. Descem ribanceiras, escalam morros bonitos cheias de casas pobres, impregnam os muros com cores vivas, espalham-se na boca da humanidade analfabeta, saciam os instintos dos animais doentes e salvam velhos aflitos que gritam os últimos gritos. Trabalho diário. Ele senta no computador branco e abandona a pompa de ser Deus.
E vira menino mau que sorri depois de realizar uma escrotidão. Vira defensor dos facínoras, quebra perna de estrela do futebol, arma esquemas inimputáveis de corrupção, assassina crianças privando-as de comida, arquiteta acidentes automobilísticos cinematográficos e também faz nascer uma flor admirada pela beleza de sua cor amarela, mas que por dentro é roxa, bem roxa, roxa de sangue.
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